Seja qual for o número de abusos sexuais
em crianças que se vê nas estatísticas, seja quantos milhares forem,
devemos ter em mente que, de fato, esse número pode ser bem maior. A
maioria desses casos não é reportada, tendo em vista que as crianças têm
medo de dizer a alguém o que se passou com elas. E o dano emocional e
psicológico, em longo prazo, decorrente dessas experiências pode ser
devastador.
O abuso sexual às crianças pode ocorrer
na família, através do pai, do padrasto, do irmão ou outro parente
qualquer. Outras vezes ocorre fora de casa, como por exemplo, na casa de
um amigo da família, na casa da pessoa que toma conta da criança, na
casa do vizinho, de um professor ou mesmo por um desconhecido.
Em tese, define-se Abuso Sexual como
qualquer conduta sexual com uma criança levada a cabo por um adulto ou
por outra criança mais velha. Isto pode significar, além da penetração
vaginal ou anal na criança, também tocar seus genitais ou fazer com que a
criança toque os genitais do adulto ou de outra criança mais velha, ou o
contacto oral-genital ou, ainda, roçar os genitais do adulto com a
criança.
Às vezes ocorrem outros tipos de abuso
sexual que chamam menos atenção, como por exemplo, mostrar os genitais
de um adulto a um criança, incitar a criança a ver revistas ou filmes
pornográficos, ou utilizar a criança para elaborar material pornográfico
ou obsceno.
A Criança Abusada
Devido ao fato da criança muito nova não
ser preparada psicologicamente para o estímulo sexual, e mesmo que não
possa saber da conotação ética e moral da atividade sexual, quase
invariavelmente acaba desenvolvendo problemas emocionais depois da
violência sexual, exatamente por não ter habilidade diante desse tipo de
estimulação.
A criança de cinco anos ou pouco mais,
mesmo conhecendo e apreciando a pessoa que o abusa, se sente
profundamente conflitante entre a lealdade para com essa pessoa e a
percepção de que essas atividades sexuais estão sendo terrivelmente más.
Para aumentar ainda mais esse conflito, pode experimentar profunda
sensação de solidão e abandono.
Quando os abusos sexuais ocorrem na
família, a criança pode ter muito medo da ira do parente abusador, medo
das possibilidades de vingança ou da vergonha dos outros membros da
família ou, pior ainda, pode temer que a família se desintegre ao
descobrir seu segredo.
A criança que é vítima de abuso sexual
prolongado, usualmente desenvolve uma perda violenta da auto-estima, tem
a sensação de que não vale nada e adquire uma representação anormal da
sexualidade. A criança pode tornar-se muito retraída, perder a confiaça
em todos adultos e pode até chegar a considerar o suicídio,
principalmente quando existe a possibilidade da pessoa que abusa ameaçar
de violência se a criança negar-se aos seus desejos.
Algumas crianças abusadas sexualmente
podem ter dificuldades para estabelecer relações harmônicas com outras
pessoas, podem se transformar em adultos que também abusam de outras
crianças, podem se inclinar para a prostituição ou podem ter outros
problemas sérios quando adultos.
Comumente as crianças abusadas estão
aterrorizadas, confusas e muito temerosas de contar sobre o incidente.
Com freqüência elas permanecem silenciosas por não desejarem prejudicar o
abusador ou provocar uma desagregação familiar ou por receio de serem
consideradas culpadas ou castigadas. Crianças maiores podem sentir-se
envergonhadas com o incidente, principalmente se o abusador é alguém da
família.
Mudanças bruscas no comportamento,
apetite ou no sono pode ser um indício de que alguma coisa está
acontecendo, principalmente se a criança se mostrar curiosamente
isolada, muito perturbada quando deixada só ou quando o abusador estiver
perto.
O comportamento das crianças abusadas sexualmente pode incluir:
1.Interesse excessivo ou evitação de natureza sexual;
2.Problemas com o sono ou pesadelos;
3.Depressão ou isolamento de seus amigos e da família;
4.Achar que têm o corpo sujo ou contaminado;
5.Ter medo de que haja algo de mal com seus genitais;
6.Negar-se a ir à escola,
7.Rebeldia e Delinqüência;
8.Agressividade excessiva;
9.Comportamento suicida;
10. Terror e medo de algumas pessoas ou alguns lugares;
11. Retirar-se ou não querer participar de esportes;
12. Respostas ilógicas (para-respostas) quando perguntamos sobre alguma ferida em seus genitais;
13. Temor irracional diante do exame físico;
14. Mudanças súbitas de conduta.
Algumas vezes, entretanto, crianças ou adolescentes portadores de
Transtorno de Conduta severo fantasiam e criam falsas informações em relação ao abuso sexual.
Quem é o Agressor Sexual
Mais comumente quem abusa
sexualmente de crianças são pessoas que a criança conhece e que, de
alguma forma, podem controla-la. De cada 10 casos registrados, em 8 o
abusador é conhecido da vítima. Esta pessoa, em geral, é alguma figura
de quem a criança gosta e em quem confia. Por isso, quase sempre acaba
convencendo a criança a participar desses tipos de atos por meio de
persuasão, recompensas ou ameaças.
Mas, quando o perigo não está dentro de
casa, nem na casa do amiguinho, ele pode rondar a creche, o transporte
escolar, as aulas de natação do clube, o consultório do pediatra de
confiança e, quase impossível acreditar, pode estar nas aulas de
catecismos da paróquia. Portanto, o mais sensato será acreditar que não
há lugar absolutamente seguro contra o abuso sexual infantil.
Segundo a
Dra. Miriam Tetelbom,
o incesto pode ocorrer em até 10% das famílias. Os adultos conhecidos e
familiares próximos, como por exemplo o pai, padrasto ou irmão mais
velho são os agressores sexuais mais freqüentes e mais desafiadores.
Embora a maioria dos abusadores seja do sexo masculino, as mulheres
também abusam sexualmente de crianças e adolescentes.
Esses casos começam lentamente através
de sedução sutil, passando a prática de “carinhos” que raramente deixam
lesões físicas. É nesse ponto que a criança se pergunta como alguém em
quem ela confia, de quem ela gosta, que cuida e se preocupa com ela,
pode ter atitudes tão desagradáveis.
A Família da Criança Abusada Sexualmente
A primeira reação da família diante da
notícia de abuso sexual pode ser de incredulidade. Como pode ser comum
crianças inventarem histórias, de fato elas podem informar relações
sexuais imaginárias com adultos, mas isso não é a regra. De modo geral,
mesmo que o suposto abusador seja alguém em quem se vinha confiando, em
tese a denúncia da criança deve ser considerada.
Em geral, aqueles que abusam sexualmente
de crianças podem fazer com que suas vítimas fiquem extremamente
amedrontadas de revelar suas ações, incutindo nelas uma série de
pensamentos torturantes, tais como a culpa, o medo de ser recriminada,
de ser punida, etc. Por isso, se a criança diz ter sido molestada
sexualmente, os pais devem fazê-la sentir que o que passou não foi sua
culpa, devem buscar ajuda médica e levar a criança para um exame com o
psiquiatra.
Os psiquiatras da infância e
adolescência podem ajudar crianças abusadas a recuperar sua auto-estima,
a lidar melhor com seus eventuais sentimentos de culpa sobre o abuso e a
começar o processo de superação do trauma. O abuso sexual em crianças é
um fato real em nossa sociedade e é mais comum do que muita gente
pensa. Alguns trabalhos afirmam que pelo menos uma a cada cinco mulheres
adultas e um a cada 10 homens adultos se lembra de abusos sexuais
durante a infância.
O tratamento adequado pode reduzir o
risco da criança desenvolver sérios problemas no futuro, mas a prevenção
ainda continua sendo a melhor atitude. Algumas medidas preventivas que
os pais podem tomar, fazendo com que essas regras de conduta soem tão
naturais quanto as orientações para atravessar uma rua, afastar-se de
animais ferozes, evitar acidentes, etc. Se considerar que a criança
ainda não tem idade para compreender com adequação a questão sexual,
simplesmente explique que algumas pessoas podem tentar tocar as partes
íntimas (apelidadas carinhosamente de acordo com cada família), de forma
que se sintam incomodadas.
1.Dizer às crianças que “se alguém
tentar tocar-lhes o corpo e fazer coisas que a façam sentir
desconfortável, afaste-se da pessoa e conte em seguida o que aconteceu.”
2.Ensinar às crianças que o respeito aos
maiores não quer dizer que têm que obedecer cegamente aos adultos e às
figuras de autoridade. Por exemplo, dizer que não têm que fazer tudo o
que os professores, médicos ou outros cuidadores mandarem fazer,
enfatizando a rejeição daquilo que não as façam sentir-se bem.
3.Ensinar a criança a não aceitar dinheiro ou favores de estranhos.
4.Advertir as crianças para nunca aceitarem convites de quem não conhecem.
5.A atenta supervisão da criança é a
melhor proteção contra o abuso sexual pois, muito possivelmente, ela não
separa as situações de perigo à sua segurança sexual.
6.Na grande maioria dos casos os
agressores são pessoas conhecem bem a criança e a família, podem ser
pessoas às quais as crianças foram confiadas.
7.Embora seja difícil proteger as
crianças do abuso sexual de membros da família ou amigos íntimos, a
vigilância das muitas situações potencialmente perigosas é uma atitude
fundamental.
8.Estar sempre ciente de onde está a criança e o que está fazendo.
9.Pedir a outros adultos responsáveis que ajudem a vigiar as crianças quando os pais não puderem cuidar disso intensivamente.
10.Se não for possível uma supervisão
intensiva de adultos, pedir às crianças que fiquem o maior tempo
possível junto de outras crianças, explicando as vantagens do
companheirismo.
11.Conhecer os amigos das crianças, especialmente aqueles que são mais velhos que a criança.
12.Ensinar a criança a zelar de sua própria segurança.
13.Orientar sempre as crianças sobre
opções do que fazer caso percebam más intenções de pessoas pouco
conhecidas ou mesmo íntimas.
14.Orientar sempre as crianças para buscarem ajuda com outro adulto quando se sentirem incomodadas.
15.Explicar as opções de chamar atenção sem se envergonhar, gritar e correr em situações de perigo.
16.Orientar as crianças que elas não
devem estar sempre de acordo com iniciativas para manter contacto físico
estreito e desconfortável, mesmo que sejam por parte de parentes
próximos e amigos.
17.Valorizar positivamente as partes
íntimas do corpo da criança, de forma que o contacto nessas partes chame
sua atenção para o fato de algo incomum e estranho estar acontecendo.
ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR
|
AGRESSOR
|
No.
|
%
|
PAI |
77
|
52
|
PADRASTO |
47
|
32
|
TIO |
10
|
8
|
MÃE |
4
|
4
|
AVÔ |
3
|
2
|
PRIMO |
2
|
1
|
CUNHADO |
2
|
1
|
TOTAL |
145
|
100
|
O que fazer?
Uma falsa crença é esperar que a criança
abusada avise sempre sobre o que está acontecendo. Entretanto, na
grande maioria das vezes, as vítimas de abuso são convencidas pelo
abusador de que não devem dizer nada a ninguém. A primeira intenção da
criança é, de fato, avisar a alguém sobre seu drama mas, em geral, nem
sempre ela consegue fazer isso com facilidade, apresentando um discurso
confuso e incompleto. Por isso os pais precisam estar conscientes de que
as mudanças na conduta, no humor e nas atitudes da criança podem
indicar que ela é vítima de abuso sexual.
Muitos pais se sentem totalmente
despreparados e pegos de surpresa quando sua criança é abusada, mas
sempre devemos ter em mente que as reações emocionais da família serão
muito importante na recuperação da criança.
1.Incentivar a criança a falar livremente o que se passou, sem externar comentários de juízo.
2.Demonstrar que estamos compreendendo a
angústia da criança e levando muito a sério o que esta dizendo. As
crianças e adolescentes que encontram quem os escuta com atenção e
compreensão, reagem melhor do que aquelas que não encontram esse tipo de
apoio.
3.Assegurar à criança que fez muito bem
em contar o ocorrido pois, se ela tiver uma relação muito próxima com
quem a abusa, normalmente se sentirá culpada por revelar o segredo ou
com muito medo de que sua família a castigue por divulgar o fato.
4.Dizer enfaticamente à criança que ela
não tem culpa pelo abuso sexual. A maioria das crianças vítimas de abuso
pensa que elas foram a causa do ocorrido ou podem imaginar que isso é
um castigo por alguma coisa má que tenham feito.
Finalmente, oferecer proteção à criança, e prometer que fará de imediato tudo o que for necessário para que o abuso termine.
No momento em que esse incidente vem à
tona, devemos considerar que o bem estar da criança é a prioridade. Se
os familiares estão emocionalmente muito perturbados nesse momento, o
assunto deve ser interrompido para que as emoções e idéias possam ser
mais bem organizadas. Depois disso, deve-se voltar a tratar do assunto
com a criança, explicando sempre que as emoções negativas são dirigidas
ao agressor e nunca contra a criança.
Não devemos apressar insensivelmente a
criança para relatar tudo de uma só vez, principalmente se ela estiver
muito emocionada. Mas, por outro lado, devemos encorajá-la a falar com
liberdade tudo o que tenha acontecido, escutando-a carinhosamente para
que se sinta confiante. Responda a qualquer pergunta que a esteja
angustiando e esclareça qualquer mal entendido, enfatizando sempre que é
o abusador e não a criança o responsável por tudo.
Se o abusador é um familiar a situação é
bastante difícil para a criança e para demais membros da família.
Embora possam existir fortes conflitos e sentimentos sobre o abusador, a
proteção da criança deve continuar sendo a prioridade. Abaixo, algumas
condutas que devem ser pensadas nos casos de violência sexual contra
crianças.
1. Informe as autoridades qualquer suspeita séria de abuso sexual.
2.Consultar imediatamente um pediatra ou
médico de família para atestar a veracidade da agressão (quando houver
sido concretizada). O exame médico pode avaliar as condições físicas e
emocionais da criança e indicar um tratamento adequado.
3.A criança abusada sexualmente deve
submeter-se a uma avaliação psiquiátrica por ou outro profissional de
saúde mental qualificado, para determinar os efeitos emocionais da
agressão sexual, bem como avaliar a necessidade de ajuda profissional
para superar o trauma do abuso.
4. Ainda que a maior parte das acusações
de abuso sejam verdadeiras, pode haver falsas acusações em casos de
disputas sobre a custódia infantil ou em outras situações familiares
complicadas.
5. Quando a criança tem que testemunhar
sobre a identidade de seu agressor, deve-se preferir métodos indiretos e
especiais sempre que possível, tais como o uso de vídeo, afastamento de
expectadores dispensáveis ou qualquer outra opção de não ter que
encarar o acusado.
6.Quando a criança faz uma confidência a
alguém sobre abuso sexual, é importante dar-lhe apoio e carinho; este é
o primeiro passo para ajudar no restabelecimento de sua autoconfiança,
na confiança nos outros adultos e na melhoria de sua auto-estima.
7.Normalmente, devido ao grande incômodo
emocional que os pais experimentam quando ficam sabendo do abuso sexual
em seus filhos, estes podem pensar, erroneamente, que a raiva é contra
eles. Por isso, deve ficar muito claro que a raiva manifestada não é
contra a criança abusada.
Seqüelas
Felizmente, os danos físicos permanentes
como conseqüência do abuso sexual são muito raros. A recuperação
emocional dependerá, em grande parte, da resposta familiar ao incidente (
Embarazada.Com).
As reações das crianças ao abuso sexual diferem com a idade e com a
personalidade de cada uma, bem como com a natureza da agressão sofrida.
Um fato curioso é que, algumas (raras) vezes, as crianças não são tão
perturbadas por situações que parecem muito sérias para seus pais.
O período de readaptação depois do abuso
pode ser difícil para os pais e para a criança. Muitos jovens abusados
continuam atemorizados e perturbados por várias semanas, podendo ter
dificuldades para comer e dormir, sentindo ansiedade e evitando voltar à
escola.
As principais seqüelas do abuso sexual
são de ordem psíquica, sendo um relevante fator na história da vida
emocional de homens e mulheres com problemas conjugais, psicossociais e
transtornos psiquiátricos.
Antecedentes de abuso sexual na infância
estão fortemente relacionados a comportamento sexual inapropriado para
idade e nível de desenvolvimento, quando comparado com a média das
crianças e adolescentes da mesma faixa etária e do mesmo meio
sócio-cultural sem história de abuso.
Em nível de traços no desenvolvimento da
personalidade, o abuso sexual infantil pode estar relacionado a futuros
sentimentos de traição, desconfiança, hostilidade e dificuldades nos
relacionamentos, sensação de vergonha, culpa e auto-desvalorização, à
baixa autoestima à distorção da imagem corporal, Transtorno Borderline
de Personalidade e Transtorno de Conduta.
Em relação a quadros psiquiátricos
francos, o abuso sexual infantil se relaciona com o Transtorno do
Estresse Pós-traumático, com a depressão, disfunções sexuais (aversão a
sexo), quadros dissociativos ou conversivos (histéricos), dificuldade de
aprendizagem, transtornos do sono (insônia, medo de dormir), da
alimentação, como por exemplo, obesidade, anorexia e bulimia, ansiedade e
fobias.
“Ilana Casoy em seu livro Serial Killer: louco ou cruel? relata
que tradicionalmente, o comportamento do adulto psicopata pode ser
conseqüência de abusos sofridos na infância, abusos sexuais, físicos ou
emocionais ou, ainda, conseqüência de traumas relacionados ao abandono
infantil.
Estudando matadores seriais, Ilana reconhece serem raros os casos que
não tenham uma história de abuso ou negligência dos pais, porém,
ressalta que isso não significa que toda criança com história de algum
tipo de abuso seja um matador em potencial.”
Por Redação do Utilidade Pública, em 22 de maio de 2012 às 14:37.
Com informações de
Ballone GJ -
Abuso Sexual Infantil, in.
PsiqWeb