Até
os anos noventa do século passado pouco se conhecia sobre o cérebro
humano e sua admirável capacidade de colher informações,
transformando-as em conhecimento e de sua sagacidade em transferir
experiências vividas ou apreendidas para solucionar novos desafios. O
avanço das Ciências da Cognição e o desenvolvimento de novas técnicas de
captação de imagens que nos permite ver a atividade cerebral enquanto
ocorre e detectar com precisão quais a estruturas envolvidas, mudaram
não apenas alguns conceitos médicos, mas interferiram sobre o que se
conhece sobre aprendizagem e memórias e, dessa forma, como trabalhar
saberes em sala de aula. A lista que aparece a seguir sugere algumas das
interessantes conclusões sobre a mente humana e que devem ser levadas
em consideração quando se ministra uma aula, seja qual for o nível de
idade do aluno, ou os conceitos que se busca construir.
1. A educação infantil é tudo, o resto quase nada.
O
cérebro humano é capaz de aprender em qualquer idade, mas reveste-se de
notável importância a educação que se recebe desde o nascer, até os
primeiros anos de vida e o reconhecimento das agudas modificações
cerebrais que se processam após a puberdade.
2. A imperativa certeza de que cérebro que não se usa é órgão que se perde.
Uma
pessoa normal nasce dotada de tecido cerebral complexo e com capacidade
para diversificadas e múltiplas conexões, mas se esse tecido não é
desafiado através de estímulos significativos que atingem a percepção
sensorial e depois não se utiliza intensamente essa modificação, ocorre
uma atrofia ou perda dessas funções. Em síntese, a escolaridade
convencional pode ter limite, a aprendizagem jamais.
3. A plasticidade limitada e a flexibilidade das mudanças pela intervenção do mediador.
Bebês
ou crianças pequenas podem sobreviver ou se desenvolver mesmo com
comprometimento de uma parte do cérebro, mas à medida que passam os
anos, esta flexibilidade diminui e fica bem mais difícil compensar
capacidades e funções perdidas. É importante que se preserve boas
amizades por toda vida, mas a amizade imprescindível é a que, até os
trinta anos, desafia, instiga, ousa.
4. A importância de estímulos procedimentais e de experiências concretas.
A
plasticidade cerebral que nos faz aprender admite que tudo quanto se
assimila chega através de experiências concretas do sujeito sobre o
objeto do conhecimento, mas chega também pela observação e constatação
dos exemplos que se conquista dos modelos que se observa e com os quais a
vida nos propõe conviver. Estímulos procedimentais não substituem
estímulos experimentais, mas estes também não substituem aqueles. Ambos
são imprescindíveis.
5. O reconhecimento pleno da individualidade e do talento humano.
A
complexidade das zonas e das redes neurais, cada uma orientada para
capacidades bastante específicas, destaca que alguns indivíduos sejam
dotados de potenciais e talentos muito acima da média dos demais e como
as aptidões são relativamente independentes, ninguém é absolutamente bom
em tudo que é necessário para bem viver, mas possui excelência em uma
ou outra capacidade. A avaliação do ser humano não pode jamais se
centrar em uma ou apenas algumas capacidades.
6. As sensíveis diferenças entre o homem e a mulher.
Além
de evidentes disparidades biológicas e de papeis sociais que em muitos
pontos se opõe, o cérebro masculino e o cérebro feminino apresentam
diferenças hemisféricas sensíveis que interferem na forma como percebem e
como acolhem a compreensão e a relação da pessoa com o mundo. Em outras
palavras, homens e mulheres podem fazer uma mesma leitura de seu tempo e
de seus personagens, mas compreendem essa leitura de forma
singularmente diferenciada.
7. O incrível papel das emoções na fixação de conhecimentos.
Impossível
deixar de reconhecer o imperativo papel da emoção no processo de
aprendizagem e as pessoas com capacidade limitada em codificar
emocionalmente suas experiências, apresentam problemas em reter e se
transformar pela aprendizagem. Emoção não somente se ensina, mas sem a
mesma pouco se aprende.
Essa
lista, muito longe de se acreditar completa, não pode ser vista com
indiferença e nem mesmo como receita por este ou por aquele professor.
Ao contrário, identificada como resposta da ciência pelo que hoje se
sabe, deve transformar-se em instrumento de reflexão e imperativo de
discussões entre toda equipe docente.