Aos quatro anos de idade, a criança não manifesta reação emotiva ao ouvir falar sobre a morte, pois vida e morte ainda são conceitos muito pouco ou quase nada assimilados por ela. Não há diferença entre eles e, portanto, não há angústia ou sofrimento.
Por volta dos seis anos, a criança começa a expressar algum esboço de dor ante a ideia da morte e, principalmente, temor profundo ante a perda da própria mãe. Mas ainda a percebe como uma separação ou abandono, como se a pessoa tivesse ido viajar ou estivesse muito distante dela, podendo retornar um dia. Ou seja, a morte é uma situação provisoria e, desta forma, reversível. A morte ainda não existe como algo eterno, sem volta, mesmo porque a noção de tempo que possui é diferente da do adulto.
Pelo fato de ainda não se perceber como um ser único e individual, é incapaz de pensar e acreditar na possibilidade de sua própria morte. Não existe ameaça contra sua vida.
Por volta dos sete anos, já admite que a morte faça parte da experiência humana, mas ainda não pensa que poderá ocorrer com ela.
Caso aconteça a morte de um dos pais, a criança tende a se sentir culpada, percebendo-a como punição pelo fato de um dia tê-la desejado ou mesmo por ter apresentado mau comportamento. Esta culpa só desaparecerá quando e se muito mais tarde e já adulta, compreender que ninguém tem força suficiente em seus desejos, que seja capaz de contribuir para a morte de alguém. Assim, o ideal é que se facilite a expressão de seus medos e temores, esclarecendo o real motivo da morte.
Aos oito anos, a criança compreende e aceita, de maneira geral, que a morte ocorrerá com todas as pessoas um dia, inclusive com ela. Mas a compreensão concreta e realista de sua própria morte só virá a partir dos nove anos.
Numa sociedade em que a morte ainda é encarada como um tabu, muitos adultos não permitem que a criança esteja presente quando se fala sobre a morte ou mesmo que participe dos rituais fúnebres, por entender que não suportaria. Mandam-na para longe do ambiente de luto ou pior, inventam histórias incríveis, dizendo que a pessoa foi fazer uma longa viagem, o que fortalece as fantasias infantis sobre o tema. Tudo por acreditarem que estão protegendo-a do sofrimento.
A criança vai crescer e um dia perceberá a mentira pela qual foi envolvida, passando a duvidar dos adultos e acreditar que não merecem sua confiança.
Por ser um fato inevitável e inerente à vida, a criança deve participar das conversas sobre a morte, das dúvidas e temores que assolam as pessoas, para que não se sinta sozinha e possa compartilhar os seus próprios sentimentos. Desta maneira, receberá o conforto necessário para suportar e enfrentar a perda da pessoa amada.
Ana Maria Morateli da Silva Rico
Psicóloga Clínica -Revista bebê
Psicóloga Clínica -Revista bebê
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